sábado, 20 de novembro de 2010

O Ganido do Cão - Prólogo

"A luta não parecia ter o menor sentido, agora que o único motivo de minha batalha se fora sem muitas chances de voltar. Mas eu não me entregaria – eu dificilmente me entregava para qualquer coisa -, a morte teria que esperar.
Lembro-me bem de como era bom ter um motivo para viver. Você se sente vivo, preenchido. Então, o motivo de viver lhe trai, e as lembranças daquele tempo feliz é a única coisa que te prende à sanidade.
Querem ouvir uma história? Vou contar a vocês como vim parar nesta enorme cama branca, em um dos melhores hospitais de Jump City!
Oh, que indelicadeza a minha. Meu nome é Dick Grayson."

Quando eu ouvi esta história pela primeira vez de meu avô, tinha seis anos. Hoje, dez anos depois, eu ainda rio ao imaginar a reação dos humanos ao ver aquelas criaturas falando e impressionando a todos com suas habilidades. Há cerca de 30 anos, os primeiros Youkais apareceram. Eram apenas três casais, meu avô me contou. Os Usagi (coelho), os Neko (gato) e os Inu (cachorro). Eles se esconderam durante anos, até que a bondosa Mãe Natureza resolveu preservar tais espécies; A nova geração de Youkais, a geração que de fato nasceu na Terra, tinha a característica de seus pais, sim. Até completarem cinco anos, e somente alguns traços bestiais sobraram em meio à beleza humana que emanava daqueles filhotes.
Os Dai-Usagi (filhos dos Usagi) tinham olhos vermelhos como sangue e uma velocidade sem igual.
Os Dai-Neko (filhos dos Neko) possuíam a sensualidade e a visão do mais feroz felino, e garras tão afiadas quanto as antigas katanas de prata usadas pelos samurais japoneses.
E os Dai-Inu (filhos dos Inu) eram donos de um olfato digno de um caçador e presas tão perigosas quanto as garras dos Dai-Neko.
Claro que os Youkais acharam um absurdo – quase um insulto – terem filhotes tão parecidos com a espécie dominante que um dia os caçara. Portanto, em um ato quase desesperado, abandonaram suas crias na porta de alguns humanos.
Minha mãe foi abandonada na porta dos Grayson, uma humilde família do interior dos Estados Unidos da América que, diferentemente dos outros americanos, acreditavam na existência dos deuses gregos. Resolveram chamá-la de Lira, em referência à deusa do silêncio eterno, já que mamãe nunca falava. Ao completar 15 anos, a Dai-Inu foi brutalmente violentada por um bêbado “convidado-de-um-convidado”, em sua própria e humilde festa. Por algum motivo, o corpo do homem amanheceu com a garganta triturada em sua cama, exatamente dois dias de violentar minha mãe. Foi assim que ela engravidou. Foi assim que eu nasci, e foi assim que a primeira e última Dai-Inu foi morta: Vítima da violência humana. No entanto, uma nova raça nascia! Meus avós me chamavam de “Tai-Inu”, o neto dos Inu, mas a escola inteira me conhecia como “Hanyou (mestiço)”, o filho da violência.
É isso aí, este sou eu! Dick Grayson, o estudante de dezessete anos, olhos azuis e cabelos negros que toda fútil garota humana gostaria de ter, se não fosse minha enorme e peluda cauda branca que começava logo acima de meu traseiro, as orelhas de cachorro, também brancas, que mais pareciam orelhas de gato, minhas presas afiadas que me deixavam parecido com um vampiro (Argh!) e meu nariz sensível que consegue sentir o cheiro de cocaína a mais de um quilômetro e meio da droga. Hey! Talvez fosse esse o motivo de nunca ter sido convidado a nenhuma festa dada por algum veterano do colégio!


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Capítulo I

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